É interessante notar o quão particular foram às mudanças na vida dos adolescentes com a pandemia. Entende-se que para os adolescentes esse foi um período muito sensível que afetou diretamente na fase em que eles saem para construir a sua própria identidade, quando se distanciam dos pais e aproximam dos grupos para se formar enquanto pessoa, e isso foi tirado de maneira brusca, restando apenas a possibilidade de fazer isso de maneira virtual.
Diz se na psicanálise que os adolescentes são a antena de tudo que é atual, eles captam e absorvem de maneira muito particular o novo, a tecnologia e a linguagem.
E foi durante a pandemia que os adolescentes passaram por um processo de retirada de seus meios de socialização, espaços de interação como na escola. E se para o adulto foi diferente entrar no mundo online e a partir dele criar novas formas de socialização, para o adolescente isso já era comum e só concretizou algo que eles já estavam acostumados: o mundo virtual como ambiente de autodescoberta, fuga da realidade, socialização e empreendimento social.
Mas dai surgiram diversos conflitos que obrigaram muitos pais a buscarem ajuda para os filhos ou os próprios filhos pedirem ajuda na hora de voltar para as atividades presenciais. Acontece que com a volta as atividades presenciais, os adolescentes se depararam novamente com a questão de que no mundo físico não se desconecta com a mesma facilidade que se faz no mundo virtual, a palavra tem mais peso e os comportamentos estão sob mais olhares e isso para o adolescente pode ser assustador de início, consequentemente tendem a se isolar e preferir o silêncio.
Ninguém saiu ileso e novas formas de vínculo e afeto foram criadas, cabe aos pais ter uma escuta sensível ao que os próprios adolescentes trazem de novo, entender que já não é mais como era antes e que existe um novo mundo possível que já é uma realidade: o virtual onde se namora, faz amigos se afeta e é afetado. É ali onde eles se escutam, se conhecem e se divertem, os tempos são outros e os adolescentes captaram isso muito bem.
Por: César Júlio Lacerda Alves | CRP 06/152688